Regina Guimarães no Centro Educativo Santo António com BOCAS, CIGANO, JP, MOSQUITO, NANDEX, PILADAS, TONECAS, TONY
Marco Pina era de Olhão
Filho de gente da pesca
Ninguém podia prever
Que entre redes e grades
Havia de conhecer
Uma morte tão funesta
Morto a tiro pelo pai
E pela mãe desleixado
Ele só pensa na pinga
Ela só pensa na pasta
− Sangue moço derramado
Chorar a morte não basta
Na terra do faz-de-conta
Se morre e mata a brincar
Mal sabia Marco Pina
Que a morte o ia agarrar
Passadas poucas semanas
De ter regressado ao lar
Marco cumprira uma pena
Longe do mar e da praia
Ó vida que és tão pequena
Se te puxam pela saia
Logo uma cauda nos mostras
Logo nos viras as costas
Pela sola especial
Dos seus ténis quase novos
Colegas de cativeiro
Reconhecem o defunto
Que passou a ser assunto
De mais um telejornal
Na idade da fervura
Duas motas rapinara
E pelo furto purgara
Longos meses de clausura
− Alguém guardou a memória
Da sua história tão dura?
E quem herdou os sapatos
De Marco Pina finado
Que a alma parte descalça
E o corpo inanimado
Já não foge do passado
Já não dá passos em falso