Hoje não sei se fico ou se calo

João Giz no Centro Educativo Santo António com Riscas, João, Vilson, Madrugadão, $eit@ e Nuno Sousa.

Hoje não sei se fico ou se calo

Diz-me se hoje é para calar
ou para medir o tempo que levo
a estender a língua nesta sala,
sobre seis mesas em forma de porta deitada.

E diz-me se é para abrir a língua ou a porta
e soltar as letras que engolem cada palavra.

refrão 1
Hoje eu não me calo,
tenho os pulmões inchados,
muito cheios de palavras malditas.

Diz-me hoje se é para calar com força
e com tempo, o soco que corre nas vozes
e troca as frases, e põe esta sala de pernas viradas para fora.

Diz-me as horas e como calar o tempo de cada dia em cada hora,
esse arrasto de tempo todo preso todo hora. Que horas são?
Falta-me tempo para calar tanto tempo,
fintar tanta hora. Em contramão com o tempo, em contratempo na hora.

refrão 2
É mentira o que nos dizem,
correr demora muito.

Que horas são quando sobram portas e fechaduras,
a ver o tempo escorregar das paredes.
Quem ouviu que hoje não tem cá dentro?

Diz as horas e cala o rapaz para chegar ao homem. Num para um
que vira cinco, em cinco que viram mais de mil.

refrão 3
Um ar grave que cala
de uma só vez a vida,
contra a porta que dispara,
nas pernas de uma saída.

Calo a boca e armo a língua.
Não digo as horas que levo ao fumo das palavras.
Sobram sobram portas, palavras e fechaduras no que havia por assim dizer.
Que horas são, que horas?

Não troco palavras. Nem levo as horas.
Sinto que não sei do tempo que sobra nem do que nele calo.
Que horas são, que horas.
Diz-me que horas e ouve como eu já não te ouço.